Vimioso: MP aponta indícios de crime na contratação de jurista pela Câmara Municipal
O Ministério Público (MP) concluiu haver “indícios suficientes” da prática do crime de procuradoria ilícita, na contratação de uma jurista pela Câmara de Vimioso, alegadamente “sem qualificações”, mas propôs a suspensão provisória do processo.
Num despacho do MP, junto do Juízo de Competência Genérica de Miranda do Douro, a procuradora diz que “foram reunidos indícios suficientes da prática do crime de procuradoria ilícita”, abrindo a porta, contudo, à suspensão provisória do processo, mediante cumprimento, pela arguida e presidente da Junta de Freguesia de Pinelo (Vimioso), eleita pelo PSD, Joana Carvalho Pires, de várias injunções e regras de conduta.
A procuradora questiona os dois assistentes no processo, a advogada que, em maio de 2022, apresentou a queixa-crime, e o Conselho Regional do Porto da Ordem dos Advogados, que posteriormente também apresentou participação criminal, se concordam com a suspensão provisória do processo, pelo prazo de quatro meses, na condição de a arguida efetuar um pagamento de 800 euros a favor do Estado, ou prestar 90 dias de trabalho a favor da comunidade.
O despacho, assinado pela procuradora Olívia Patrícia Jaldim Rodrigues Bebiano, cita apenas o nome da arguida e não o do município de Vimioso, liderado por Jorge Fidalgo (PSD), advertindo que a ausência de resposta por parte dos assistentes “será considerada como concordância” quanto à suspensão provisória do processo, naqueles termos.
Em agosto desse ano, o Conselho Regional do Porto da Ordem dos Advogados (CRPOA) indicou que, depois de analisar a documentação, decidiu também avançar com uma queixa-crime, visando a contratação da jurista em causa pela Câmara de Vimioso, supostamente “sem qualificações” para exercer assessoria jurídica naquele município.
Segundo o Portal Base – contratos públicos ‘online’, a contratação da jurista para “Serviços de Assessoria Jurídica na Modalidade Tarefa”, entre 15 de fevereiro e 31 de dezembro de 2021, teve um custo de 19.800 euros.
Em junho de 2023, a Câmara de Vimioso viria a contratar a arguida no âmbito de um concurso para técnico superior.
A autarquia não viu na investigação do MP ainda em curso motivo para excluir a arguida.
“Relativamente ao possível ‘entrave à sua contratação’, o facto de a alegada prática do crime de procuradoria ilícita se encontrar em investigação (a Câmara Municipal não foi notificada de qualquer ato/decisão proveniente do Ministério Público), não constitui fundamento de exclusão de candidatos a qualquer procedimento concursal público”, sublinha a Câmara de Vimioso.
Além de presidente da Junta de Freguesia de Pinelo, a arguida faz parte, por inerência, da Assembleia Municipal, e é membro do Conselho de Jurisdição Distrital de Bragança do PSD, informação que consta na página oficial da distrital de Bragança do partido.
“Relativamente à sua integração como membro da Comissão Política Distrital do PSD, e não tendo a Câmara Municipal que se pronunciar sobre esse assunto, solicitamos informação à visada, tendo a mesma informado que essa informação é falsa”, refere o município.
A Lusa tentou, por várias vezes, através de chamadas telefónicas e SMS, contactar a arguida e autarca, mas a mesma nunca atendeu nem respondeu.
Fonte: Lusa