Entrevista: «A elevação de Sendim a vila foi o reconhecimento do trabalho dos sendineses» – Luís Santiago
No dia 13 de julho, Sendim assinalou o 33º aniversário de elevação a vila, um feito histórico que ocorreu em 1990 e que segundo o presidente da União de Freguesias de Sendim e Atenor, Luís Santiago, é motivo de orgulho para a população sendinesa, que corajosamente continua a trabalhar para agir contra o despovoamento e fazer desta localidade um importante centro económico e turístico da Terra de Miranda.
Terrra de Miranda – Notícias: A localidade de Sendim foi elevada a vila no dia 13 de julho de 1990. Volvidos 33 anos, que significado continua a ter esta efeméride para a população local?
Luís Santiago: Em 1990, a elevação de Sendim à categoria de vila foi sobretudo o reconhecimento do trabalho dos sendineses, que na naquela época, fizeram de Sendim a maior aldeia do distrito de Bragança, Recordo, que na década de 1990, Sendim já dispunha de serviços como a Escola Básica e Preparatória e a corporação de Bombeiros. Com a aprovação do projeto de lei, a 13 de julho de 1990, a população sendinesa viu realizada a sua pretensão de passar a vila e festejou efusivamente esta conquista.
T.M.N.: Ao longo destes 33 anos como vila, que mudanças houve em Sendim?
L.S.: Não obstante, o problema conjuntural do despovoamento que afeta todas as localidades do interior do país, a vila de Sendim continua a distinguir-se pelo dinamismo das suas gentes. Ao longo dos 33 anos de vila, continuamos a manter em funcionamento serviços importantes como são a Escola Básica 1/2/3, o centro de saúde, o posto da GNR, o lar de idosos, a corporação de bombeiros, as cooperativas agrícolas, entre outros serviços.
T.M.N.: Segundo Censos de 2021, o concelho de Miranda do Douro perdeu 13,62% da população. Atualmente, quantas pessoas residem em Sendim?
L.S.: Em Sendim, vivem atualmente cerca de 1000 pessoas. Aos fins-de-semana, com o regresso dos jovens que estão a estudar ou trabalhar noutras localidades, esse número aumenta. Nos períodos festivos, como o Natal, a Páscoa e as férias do verão, a população em Sendim também regista um aumento de pessoas com a maior afluência de turistas e o regresso dos emigrantes.
T.M.N.: A nível local, que políticas ou medidas é possível implementar para agir contra o despovoamento, fixar a população e atrair novos habitantes?
L.S.: No que concerne à natalidade, a junta de freguesia de Sendim reforçou o apoio financeiro atribuído a cada nascimento, assumindo também os custos das vacinas não comparticipadas pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS). Também a frequência da creche é totalmente gratuita. No que diz respeito aos incentivos à natalidade, no meu entender, o município de Miranda do Douro poderia reforçar o apoio financeiro às famílias do concelho, à semelhança do que já acontece noutros concelhos do distrito. Mas acima de tudo, compete ao governo central implementar políticas e medidas que travem, de uma vez por todas, o despovoamento do interior.
T.M.N.: Luís Santiago, a par de presidente da União de Freguesia de Sendim e Atenor é também empresário. Fazendo uso da sua experiência empresarial, o que é necessário para que haja mais pessoas e em particular jovens, a serem empreendedores e a criarem novas empresas em Sendim?
L.S.: Iniciar uma empresa e negócio nesta região é sempre difícil, dada a débil densidade populacional. E à falta de clientes junta-se também o problema da falta de mão-de-obra. Hoje em dia, é muito difícil contratar pessoas para trabalhar, quer no setor privado quer no público, em atividades como a construção civil, as montagens elétricas, na restauração e nos lares de idosos, entre outras atividades.
T.M.N.: Esta falta de mão-de-obra local faz com que cheguem à região pessoas vindas de outros países?
L.S.: Sim, a junta de freguesia de Sendim tem vindo a emitir vários registos de residência, para pessoas vindas de países como o Brasil, a Argentina e até a Ucrânia. Estes emigrantes estão a trabalhar em atividades como a restauração e a construção civil. Faço votos de que estas famílias permaneçam entre nós, pois contribuem não só para o dinamismo económico da vila, mas também para o rejuvenescimento da população, com o ingresso dos filhos nas escolas.
T.M.N.: Luís Santiago está a desempenhar o primeiro mandato como presidente de União de Freguesias de Sendim e Atenor . Como é o dia-a-dia de um presidente de freguesia?
L.S.: Antes de assumir este cargo, participei no associativismo local, o que me capacitou para encarar esta nova responsabilidade como um serviço que estou a prestar a população de Sendim. No dia-a-dia, eu e a minha equipa, estamos sempre disponíveis para atender as pessoas.
T.M.N.: Quais são as solicitações mais frequentes dos seus fregueses?
L.S.: Dado que Sendim é uma vila do meio rural, onde, felizmente, ainda se pratica muita agricultura, o maior número de solicitações que a freguesia recebe diz respeito à manutenção dos caminhos rurais. Trata-se de um trabalho moroso e exigente, pois a área da união de freguesias é muito extensa. Recentemente, a união de freguesias adquiriu um trator, com os devidos equipamentos, para realizar o trabalho de limpeza dos caminhos rurais e das valetas.
T.M.N.: No próximo mês de outubro completa dois anos como autarca na União de Freguesias de Sendim e Atenor. Que avaliação fez dos quase dois anos de governação?
L.S.: No decorrer destes primeiros dois anos de trabalho, creio que correspondemos às solicitações da população e estamos também a preparar as obras prometidas, em que as prioridades são a recuperação da rua do Baiunco e a construção do matadouro intermunicipal.
T.M.N.: A vila de Sendim é a freguesia mais a sul do concelho de Miranda do Douro, dista 23 quilómetros da cidade e está a 28 km de Mogadouro. O estar localizada entre estas duas localidades favorece o desenvolvimento de Sendim?
L.S.: Sim, a nossa localização permite-nos realizar trocas comerciais nos dois concelhos e também com a vizinha Espanha. É muito comum, que pessoas das aldeias vizinhas, por exemplo, de Bemposta, de Palaçoulo e de Fermoselle (Espanha) venham a Sendim, para fazer compras na farmácia, nas casas agrícolas ou noutros estabelecimentos comerciais.
T.M.N.: Duas das atividades económicas que continuam a ter expressão em Sendim é o cultivo da vinha e a fabrico de vinho, assim como a olivicultura e a extração de azeite. Estas atividades agrícolas continuam a ser importantes para Sendim?
L.S.: Nos últimos anos, cultivaram-se vinhas novas em Sendim, o que demonstra que a vitivinicultura continua a ter muita importância para os agricultores locais. Na vila, há agricultores que colhem cerca de 50 mil quilos de uvas por ano. E o mesmo acontece na apanha da azeitona e na extração de azeite, que continua a ser uma importante fonte de rendimento para as famílias sendinesas.
T.M.N.: A par da vitivinicultura e da olivicultura, que outras atividades se destacam em Sendim?
L.S.: Na agricultura local, o amendoal também tem um peso económico significativo. Também existe a apicultura, com alguns produtores de mel. Existem ainda duas explorações de cunicultura, isto é, de criação de coelhos. E está em fase de conclusão um projeto aviário.
T.M.N.: A vila de Sendim está inserida no Parque Natural do Douro Internacional (PBDI), a escassos quilómetros do rio Douro e de uma zona ambiental rica em fauna e flora. Sendim tem aproveitado bem esta riqueza ambiental?
L.S.: No âmbito do turismo, o atual executivo da freguesia de Sendim definiu como prioridade a limpeza e manutenção dos carreirões, isto é, dos caminhos estreitos das arribas do rio Douro, como o carreiro do Forcaleiro e o carreio dos Moinhos, onde é possível fazer caminhadas na natureza e contemplar a fauna, a flora e os miradouros. Para um melhor aproveitamento turístico destas paisagens nas arribas do Douro, também compete às empresas de turismo local, divulgar e rentabilizar este valioso património natural.
T.M.N.: Que outros locais de interesse existem em Sendim?
L.S.: Em Sendim existem vários monumentos de interesse religioso e cultural como são a Igreja Matriz de Sendim, com um retábulo das almas do século XIV. No âmbito religioso destacam-se ainda as capela N. Srª dos Remédios, de São Paulo, de São Sebastião, do Senhor da Boa Morte (Séc. XVIII), o ermitério Os Santos e os vários cruzeiros. Na vila, há ainda outros locais de interesse, como são a Fonte do Lugar e a renovada estação de caminho-de-ferro de Sendim. Futuramente, cada um destes locais vai ter uma breve descrição histórica, feita pelo etnógrafo, Mário Correia.
T.M.N.: Ao longo do ano, quais são os eventos de maior destaque na vila?
L.S.: Durante o ano, Sendim realiza vários eventos que já são uma marca da localidade, como é a Feira dos Gorazes, em outubro. No mês de dezembro, a celebração do Natal, com a fogueira do galo, é vivida com muito entusiasmo pelos sendineses. No carnaval, assume destaque o cortejo e o enterro do Entrudo. Na Páscoa, celebramos a Semana Santa. E em junho, o destaque é a Ronda das Adegas, em Atenor; e a celebração do Dia da Criança.
T.M.N.: E nestes meses de verão, que eventos há em Sendim?
L.S.: Em julho, realiza-se a concentração motard “Abutes do Douro”, uma iniciativa que traz muitos motards a Sendim, graças à associação local, que este ano comemora 25 anos. No mês de agosto, realiza-se o Festival Intercéltico, que antecede as grandiosas Festas de Santa Bárbara. No dia 12 de agosto realiza-se também a Feira do Emigrante.
T.M.N.: Sendim continua a ser uma terra de emigrantes?
L.S.: Sendim já não é uma terra de emigrantes com foi há 20 ou 30 anos atrás, em que no mês de agosto regressavam muitos conterrâneos, que trabalhavam sobretudo em França. Hoje em dia, os filhos e netos desses emigrantes acabaram por casar nos países de emigração ou noutras localidades e por essa razão não têm tanta ligação a Sendim, como tiveram os seus pais e avós. Ainda assim, no mês de agosto continuam a regressar alguns emigrantes para as merecidas férias e para participar nas festividades locais.
T.M.N.: No dia 13 de julho, qual é o programa das comemorações do 33º aniversário de elevação de Sendim a vila?
L.S.: As comemorações vão iniciar-se ao final da tarde, com a apresentação dos trabalhos realizados ao longo do ano, na Oficina do Idoso. Depois, às 18h30, vai celebra-se a missa, em sufrágio de todos os sendineses já falecidos. Finalizada a celebração religiosa, a junta de freguesia vai oferecer um jantar-convívio para toda a população. Para o serão, está programada a atuação do Rancho Folclórico e Etnográfico de Sendim e do Grupo Folclórico da Casa do Povo da Camacha (Madeira). Às 22h45, vão ser entregues lembranças aos 22 alunos que concluíram o ciclo de estudos na Escola B 1/2/3 de Sendim. E as comemorações da Elevação de Sendim a Vila vão encerrar com a atuação e apresentação do cd, do grupo de rock sendinês, “Pica & Trilha”.
HA