VI DOMINGO DA PÁSCOA
Deus é a nossa companhia
At 8, 5-8.14-17 / Slm 65 (66), 1-3a.4-7a.16.20 / 1 Pe 3, 15-18 / Jo 14, 15-21
Não vos deixarei órfãos (Evangelho).
Quantas vezes já nos assaltou o medo de ficarmos sozinhos? Seja na morte de alguém que amamos, seja no distanciamento que por vezes surge numa relação, este receio vai-se insinuando e ganhando espaço nos nossos corações.
Uma amiga contou-me que, quando adotou uma criança, teve de enfrentar um desafio, do qual estava a par como pedopsicóloga, mas para o qual não estava preparada: a criança, de 5 anos de idade, nunca chorava nem se queixava. Não porque fosse particularmente resistente, mas porque não tinha confiança de que alguém a escutasse.
Nos primeiros meses de vida nunca a acudiram quando chorava, fosse por sentir fome, frio ou simplesmente por estar sozinha. Deixou de acreditar no choro e no grito, porque não havia quem acudisse, quem acompanhasse, quem ajudasse, quem consolasse.
A maior parte de nós ainda acredita no choro e no lamento. Ainda crê que existe alguém que está à escuta e consola. Mas quantos de nós já passámos por momentos em que isto parecia fora do nosso alcance, momentos em que sentimos que não havia ninguém para nos dar colo? Pior: quantos de nós já sentimos que não merecíamos ser amados?
Jesus encarnou para nos mostrar que o Pai do Céu não abandona. Que Ele está connosco, faz caminho connosco, vem em nosso auxílio, e que nada nos pode separar do amor de Deus. Ainda que nos encontremos sós ou nos sintamos abandonados, a encarnação de Cristo mostra-nos que somos dignos de amor e que somos efetivamente amados. E que vale a pena chorar, lamentar-nos, queixar-nos, porque o Pai que está no Céu escuta o nosso lamento.
Deus procura-nos e deseja a nossa companhia. Entreguemos-lhe as nossas alegrias e choros, entusiasmos e desânimos. Esperemos que Ele venha e nos conforte. Foi esta a sua promessa e Deus é fiel.