Ambiente: Proteger as aves migratórias é proteger milhões de pessoas
O diretor da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), Domingos Leitão, alertou para a importância de proteger as aves migratórias e os seus habitats, um comportamento que tem consequências no modo de vida de milhões de pessoas em todo o mundo.
A propósito do Dia Mundial das Aves Migratórias, que se assinala no sábado, dia 13 de maio, Domingos Leitão destaca as principais dificuldades que enfrentam as aves migratórias, como são as alterações climáticas ou a destruição de habitats.
O responsável pelo SPEA avisou que são necessárias ações para proteger os ecossistemas, lamentando que os políticos estejam mais preocupados com os negócios e menos com as consequências dos negócios.
“Os políticos envolvem-se nas coisas, mas preocupam-se pouco com a sustentabilidade a longo prazo. Preocupam-se muito com o que vai acontecer a quatro anos mas a natureza funciona a muito mais longo prazo”, afirma, dando como exemplo os projetos de construção de parques eólicos no mar (offshore).
A SPEA, com outras organizações, já fizeram chegar informação ao Governo sobre a matéria, diz.
É que, avisa, pode haver perda de biodiversidade no mar com as eólicas, que podem ser prejudiciais para as aves marinhas. E os seres humanos dependem das pescas e estas também são reguladas pelas aves marinhas, acrescenta. Na natureza, salienta, tudo está interligado.
Autoridades nesta área têm alertado e alertam de novo este ano para as cada vez maiores ameaças para os ecossistemas aquáticos, com a crescente procura humana por água, a poluição e as alterações climáticas. A efeméride serve precisamente para sensibilizar para a necessidade de proteger as aves migratórias e os seus habitats.
Domingos Leitão diz que é errado pensar-se que as aves migratórias não são importantes para a humanidade e fala de como são fundamentais para os ecossistemas, sendo também um indicador da sua qualidade.
Existem no mundo cerca de 11 mil espécies de aves e os avanços do conhecimento na ecologia devem muito ao estudo das aves, diz, explicando que no grupo das aves são as migratórias as mais sensíveis e em maior risco de extinção.
Além de mudanças no clima, o responsável alerta que também a poluição luminosa é prejudicial para as aves, um tema sobre o qual têm trabalhado as organizações ligadas ao ambiente. É preciso, diz, encontrar um equilíbrio entre as ruas não ficarem escuras e a luzes não matarem as aves.
Domingos Leitão cita um projeto envolvendo dois municípios na Madeira, de diminuição da intensidade da luz exterior ao longo da noite, que além de melhorar a proteção da natureza permite uma poupança energética e de dinheiro.
Em Portugal como em qualquer parte do mundo “muitas luzes são armadilhas mortais para milhões de passarinhos”, e as luzes de marginais afetam as aves marinhas. Lembra o diretor que pela costa e pelo mar português passam de “todas as aves marinhas da Europa”.
Marinhas ou não, a migração das aves é “um fenómeno extraordinário”, diz o responsável, lembrando que já era referenciado na própria Bíblia.
E não só para o sustento. Domingos Leitão lembra que populações do norte da Europa usavam a penugem dos ninhos de uma espécie de pato para encher coberturas de cama e almofadas.
A já aportuguesada palavra edredão tem origem nesses patos. Do dinamarquês “ederduun”, formado por “êider”, uma espécie de pato, e por “duun”, que quer dizer penugem.
Fonte: Lusa