Vimioso: História dos Judeus no concelho dinamiza atividades culturais
Nos dias 29 e 30 de abril e 1 de maio, o município de Vimioso vai dinamizar o evento “Encontros no Planalto – Cultura e Identidade Sefardita”, que consiste num conjunto de atividades culturais em torno da história dos judeus sefarditas no concelho vimiosense, com especial enfoque nas localidades de Carção, Argozelo e Vimioso.
De acordo com António dos Santos, vice-presidente do Município de Vimioso, a história dos judeus é um legado que pode promover o concelho, através da realização de roteiros turísticos sobre a cultura judaica e/ou a comercialização de produtos como a “Alheira judaica” ou o “Azeite Kosher”.
“O nosso objetivo é valorizar o que temos de melhor e procurar novos investidores que alavanquem o desenvolvimento do concelho de Vimioso”, justificou.
Sobre a história do povo judeu sefardita – “sefardita” significa o território da península ibérica -, recorde-se que no final do século XV, foi decretada a expulsão dos judeus do território peninsular, com o objetivo de impor a religião cristã a toda população. Com esta decisão, calcula-se que cerca de 200 mil pessoas foram expulsas e aqueles que decidiram permanecer na península ibérica foram obrigados a converter-se ao cristianismo.
No concelho de Vimioso e em particular nas localidades de Carção e Argozelo, ainda há vestígios que comprovam a presença judaica. A arquitetura urbana com ruas muito estreitas e becos sem saída é um desses vestígios.
Segundo o vice-presidente do município de Vimioso, António dos Santos, natural de Carção, outro vestígio da presença judaica são as soleiras das portas.
Segundo António Santos, outros sinais da presença judaica no concelho de Vimioso são alguns rituais, objetos, hábitos alimentares e mesmo os testemunhos de pessoas de várias gerações, que ainda hoje se orgulham de ter descendência judia.
Em Carção, para preservar a história judaica na aldeia foi edificado o Memorial aos Judeus e o Museu Marrano.
A designação “marranos” – vulgarmente atribuída aos porcos nos tempos inquisitoriais – era um nome depreciativo atribuído aos judeus convertidos à força ao cristianismo e que durante séculos permaneceram, ocultamente, fiéis à fé judaica e às suas normas, designadamente na alimentação, abstendo-se de comer carne de porco.
António Santos, confirmou que na aldeia de Carção existiam muitas pessoas de origem judaica que foram obrigadas, no tempo da inquisição, a converterem-se ao cristianismo.
“Antigamente as pessoas tinham medo – por causa da perseguição – e vergonha em dizer que eram judeus. Mas hoje, isso já não acontece e as pessoas descendentes de judeus têm mesmo orgulho em reconhecer publicamente a sua origem.», disse.
De acordo com o autarca, os “judeus sefarditas eram sobretudo os comerciantes, os artesãos (que se dedicavam ao fabrico das peles e da cola) e os almocreves (vendedores ambulantes).
“De Carção partiam os almocreves, com mulas carregadas de produtos como ovos, sardinhas, azeite, peles e cola para serem comercializados em toda a zona norte, de Viseu até ao Porto”, contou.
A vereadora da cultura do município de Vimioso, Carina Lopes, especificou que o objetivo dos “Encontros no Planalto – Cultura e Identidade Sefardita” tem por objetivo valorizar esta herança cultural judaica no concelho e aproveitá-la para dinamizar o turismo, com a atração de novos públicos.
Os “Encontros no Planalto – Cultura e Identidade Sefardita” são um iniciativa do município de Vimioso, sendo que a conceção e produção do evento está a cargo da empres Ideias Emergentes e é co-financiado pelo programa governamental “Garantir Cultura”.
HA