Entrevista: «Pretendemos dar notoriedade ao comércio, à indústria e ao artesanato local» – Bruno Gomes, presidente da ACIMD

A 31 de março de 2022, realizaram-se as eleições para os órgãos sociais da Associação Comercial e Industrial de Miranda do Douro (ACIMD), para o triénio 2022/2025, tendo sido eleito presidente, Bruno Gomes, que assumiu que a prioridade é dar notoriedade ao comércio, à indústria e ao artesanato local.

Bruno Gomes é o novo presidente da Associação Comercial e Industrial de Miranda do Douro (ACIMD)

Terra de Miranda – Notícias: A Associação Comercial e Industrial de Miranda do Douro (ACIMD) foi constituída a 16 de Outubro de 1986, com a missão de contribuir para o desenvolvimento do comércio e da indústria local. O que o motivou a candidatar-se à presidência da ACIMD?

Bruno Gomes: Decidi candidatar-me a este cargo por duas razões. A primeira é procurar fomentar uma maior proximidade e cooperação entre os associados da Associação Comercial e Industrial de Miranda do Douro (ACIMD). A outra razão é a vontade de trabalhar e aproveitar o enorme potencial turístico de Miranda do Douro, para dinamizar as outras atividades como são o comércio, a hotelaria e a restauração, a indústria e o artesanato, a agricultura e a pecuária.

T.M.N: A agropecuária, o comércio, a hotelaria e a restauração são as atividades económicas mais desenvolvidas no concelho. Que tipo de colaboração há entre estes diferentes setores?

B.G.: Na minha atividade, sempre tive o cuidado de dar preferência aos produtos locais, como são a carne mirandesa, o cordeiro mirandês, alguns produtos hortícolas do concelho, os talheres fabricados nas fábricas de cutelaria de Palaçoulo, etc. Outro detalhe importante são as sugestões que fazemos às excursões e aos turistas para visitarem as fábricas da cutelaria e da tanoaria de Palaçoulo. No âmbito do artesanato, fazemos questão, por exemplo, de usar no local de trabalho os coletes em burel, manufaturados por artesãs locais, com o objetivo de promover a identidade da região.

“No âmbito do artesanato, fazemos questão, por exemplo, de usar no local de trabalho os coletes em burel, manufaturados por artesãs locais, com o objetivo de promover a identidade da região.”

T.M.N.: No artesanato de Miranda do Douro destaca-se também a manufatura de tapetes, colchas, mantas, as capas d’honras mirandesas, o ferro forjado, as cestas em verga, as peças em madeira e os instrumentos musicais. Qual o papel da ACIMD na promoção do artesanato local?

B.G.: Um dos eventos que promove o artesanato local é a Famidouro – Feira do Artesanato, que esperamos voltar a organizar este ano. O nosso propósito é dar continuidade ao trabalho realizado pela anterior direção da ACIMD. No decorrer do mês de agosto, há muitos turistas e emigrantes que visitam Miranda do Douro e por isso, a Famidouro é uma boa montra para que os artesãos locais – e outros artesãos vindos de todo o país – possam mostrar ao público os seus trabalhos.

T.M.N.: Na cidade de Miranda do Douro, a hotelaria e a restauração são setores com bastante atividade. Quantas pessoas trabalham nestes setores?

B.G.: Para uma cidade de pequena dimensão, como é o caso de Miranda do Douro, só no setor da restauração trabalham cerca de 90 pessoas, o que por si é um número bastante significativo.

T.M.N.: Há falta de mão-de-obra na restauração?

B.G.: Sim, há falta de trabalhadores qualificados. Mas procuramos pessoas que pretendam construir um projeto de vida nesta área da restauração e não apenas trabalhadores sazonais. Para dar resposta a este problema, uma das nossas sugestões é a de abrir uma escola de turismo em Miranda do Douro.

“Uma das nossas sugestões é a de abrir uma escola de turismo em Miranda do Douro.”

T.M.N.: O que atrai tanto os espanhóis a Miranda do Douro?

B.G.: Os espanhóis gostam de vir a Miranda, por várias razões: porque é uma cidade histórica, bonita e de pequena dimensão. E o ser pequena permite aos visitantes percorrer a pé e com facilidade quer a zona histórica, quer a parte comercial. Neste perímetro, a cidade oferece aos visitantes várias possibilidades: a história e a cultura, a natureza e os passeios de barco no rio Douro, o comércio, a gastronomia e o lazer.

T.M.N.: No comércio, o que é que os espanhóis gostam de comprar?

B.G.: No comércio, as preferências dos visitantes espanhóis mudam muito. Quando abriu a fronteira em 1978, dizia-se que os espanhóis compravam de tudo. Depois, compravam sobretudo artigos de bronze. Seguiu-se o nosso café, que é de melhor qualidade e preço. Veio depois o interesse pelos atoalhados, também por causa da qualidade dos têxteis portugueses. E mais recentemente surgiu o interesse pela compra do mobiliário português, fabricado em Paços de Ferreira e comercializado em Miranda do Douro.

“Miranda oferece aos visitantes várias possibilidades: a história e a cultura, a natureza e os passeios de barco no rio Douro, o comércio, a gastronomia e o lazer.”

T.M.N: Que investimentos faz a ACIMD na promoção de Miranda do Douro no exterior, em particular na vizinha Espanha?

B.G.: A ACIMD procura divulgar e promover Miranda do Douro nos meios de comunicação social espanhóis e também através da publicidade em outdoors e flyers, sobretudo nas cidades de Zamora e Salamanca. É importante dar esta visibilidade a Miranda. Depois, a melhor promoção continua a ser a qualidade do serviço que prestamos. Se os visitantes ficarem agradados, certamente serão eles a publicitar-nos junto dos seus familiares e amigos.

T.M.N.: Miranda é sobejamente conhecida pela cultura local, pela gastronomia e pela beleza natural do seu território. Que novas ideias e projetos pretende a nova direção da ACIMD implementar, para desenvolver as atividades económicas?

B.G.: Em primeiro lugar, a nova direção da ACIMD vai inteirar-se do atual estado da associação, para depois definir objetivos concretos. Adianto que uma das nossas primeiras ações é estabelecer sinergias com as associações homólogas, de Espanha e também dos concelhos vizinhos, para nos apoiarmos mutuamente e criarmos um maior dinamismo económico da região. Outro grande propósito é o de criar uma Feira da Agricultura, o Roteiro Gastronómico no Distrito e oferecer formação profissional inovadora para os nossos associados.

“É importante dar visibilidade a Miranda do Douro.”

T.M.N.: A valorização dos produtos locais é uma causa a defender?

B.G.: Sim, na nossa região há produtos de muita qualidade e os agricultores têm muita dificuldade em escoar a sua produção. Por isso, a nossa intenção é criar uma cadeia local entre os produtores, os restaurantes e o comércio, de modo a valorizar o que é nosso e simultaneamente fortalecer a economia local.

T.M.N.: Qual é a mais valia de um empresário pertencer à ACIMD?

B.G.: A ACIMD proporciona aos associados ações de consultoria, aconselhamento e formação contínua, assim como informações e esclarecimentos vários sobre assuntos como a legislação em vigor e os programas de apoio ao desenvolvimento da atividade económica.

T.M.N.: Quais são os principais problemas que enfrentam os comerciantes e industriais de Miranda do Douro?

B.G.: Atualmente, a ACIMD tem 470 associados inscritos. Os nossos principais problemas derivam do despovoamento e do isolamento geográfico, que por conseguinte dificultam o desenvolvimento do comércio, da indústria, do artesanato e da venda dos produtos locais. Por isso, a nova direção da ACIMD assume como grande desafio a promoção destes setores. À semelhança do que o município de Miranda do Douro tem conseguido fazer na promoção de ícones da região – a posta mirandesa, o cordeiro mirandês, a bola doce mirandesa, a capa d’honras, a música tradicional e os pauliteiros – pretendemos alcançar a mesma notoriedade para o comércio, a indústria e o artesanato.

“A nova direção da ACIMD assume como grande desafio a promoção do comércio, da indústria e do artesanato locais.”

Perfil

Bruno Gomes, tem 47 anos, é casado e pai de duas filhas.

Desde 1996, é empresário no setor da restauração, sendo proprietário do restaurante Miradouro, localizado em Miranda do Douro.

A 31 de março de 2022, foi eleito presidente da Associação Comercial e Industrial de Miranda do Douro (ACIMD).

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