Fonfría: «O problema do envelhecimento também é uma oportunidade para a região» – Sérgio Lopez Vaquero
No município raiano de Fonfría (Espanha), vivem atualmente 785 habitantes, na sua maioria idosos, o que segundo o alcaide local, Sérgio Lopez Vaquero, pode ser uma oportunidade de repovoamento, com a chegada de jovens para cuidar das pessoas idosas.
A relação de vizinhança
Espanha e Portugal são países vizinhos. Mas esta relação de vizinhança nem sempre é de confiança e de cooperação. Daí que a pergunta continue atual: “O que se pode fazer mais para que portugueses e espanhóis se conheçam melhor e cooperem mais?”. Fomos à procura da resposta e viajamos até Fonfría, sede de um município espanhol, que dista apenas 26 quilómetros de Miranda do Douro. Aí chegados, fomos recebidos na sede do Ayuntaminento, pelo alcaide local, o jovem Sérgio Lopez Vaquero. À pergunta inicial sobre que tipo de relação existe entre espanhóis e portugueses, o jovem autarca espanhol começou por realçar que nas localidades onde há fronteira, como são as aldeias de Castro de Alcañices, Brandilanes e Moveros, há bastante interação entre os dois povos. E deu o exemplo, da afluência de portugueses a Moveros, ao comércio local, para comprar utensílios de barro ou a carne de vitela da raça alistana. Em sentido inverso, referiu que os espanhóis gostam de ir sobretudo a Miranda do Douro, fazer compras e comer nos restaurantes locais.
As festividades
Para além do comércio, também as festividades são uma boa ocasião para aproximar as populações raianas. Neste âmbito, Sérgio Lopez Vaquero, destaca a Festa de Nossa Senhora da Luz, que se realiza no último fim-de-semana de abril. À capela construída na fronteira entre Constantim (Portugal) e Moveros (Espanha), acorrem muitos espanhóis e portugueses para a celebração religiosa, mas também para a feira de produtos portugueses e espanhóis que se realiza depois da Eucaristia.
A cooperação política
Comércio, festividades… E que outras iniciativas ou medidas poderão aproximar portugueses e espanhóis e desenvolver estas localidades? No passado dia 10 de outubro realizou-se, na Guarda, a 32ª cimeira luso-espanhola, na qual os governos de ambos os países definiram uma estratégia comum para desenvolver as regiões transfronteiriças.Entre as medidas acordadas, destacam-se a construção de estradas como o troço o IC5 até Espanha e a autoestrada de Zamora até Quintanilha, o estatuto de trabalhador transfronteiriço e acordos de cooperação na área da assistência sanitária.Na opinião do alcaide de Fonfría, as medidas mais urgentes para desenvolver estas localidades de fronteira são em primeiro lugar as vias de comunicação. “As estadas são essenciais e têm que ser boas.”, diz. E deu o exemplo da aldeia fronteiriça de Ceadea, que ainda não tem uma estrada de ligação a Portugal, e por isso, continua isolada e menos desenvolvida. De acordo com Sérgio Lopez Vaquero, a construção da autoestrada entre Zamora e a fronteira de Quintanilha seria fantástica. E justifica dizendo: “As vias de comunicação trazem pessoas, turismo e investimento. Atualmente, se não existirem boas vias de comunicação a economia também não funciona”, explicou. Para além das estradas, o jovem autarca indica outra necessidade: no município de Fonfría, o sistema de telecomunicações, quer de internet, quer de rede móvel é muito deficitário. Daí a urgência em disponibilizar um serviço de telecomunicações de qualidade, do qual possam beneficiar, quer as populações locais, quer os que por aqui passam, espanhóis e portugueses.
O envelhecimento também é uma oportunidade
Outro dos problemas que se vive em Fonfría é o despovoamento e o envelhecimento da população, aliás, é um problema que afeta os dois lados da fronteira. Quando perguntamos ao governante local como enfrentavam este problema, Sérgio Lopez Vaquero, afirmou que problema do envelhecimento também pode ser visto como uma oportunidade. E explicou dizendo: “Se a nossa população é envelhecida, uma estratégia para repovoar esta região, é oferecer às pessoas oportunidades profissionais de assistência e cuidado às pessoas idosas.” E referiu que atualmente, o município de Fonfria, está a construir um refeitório social para entregar refeições às pessoas idosas nas suas casas.
Conhecer Fonfría
O município de Fonfría é constituído por nove aldeias: Arcillera, Bermillo de Alba, Brandilanes, Castro de Alcañices, Ceadea, Fornillos de Aliste, Moveros e Salto de Castro. Nesta nove aldeias é possível contemplar a natureza, e a visita o Parque das Arribas do Douro, em Castro de Alcañices é obrigatória. Por todas as aldeias do município é possível conhecer a arquitetura tradicional, as igrejas, as ermitas, as fontes, os moinhos e as pontes. Na aldeia raiana de Moveros, onde os solos são muito argilosos, é possível visitar os fornos tradicionais onde se coziam as peças de barro. Destaque também para as festividades, como a já mencionada romaria internacional de Nossa Senhora da Luz, que se realiza no último Domingo de abril, na capela situada entre Moveros e Constantim (Portugal).
Onde pode ficar hospedado?
Para quem queira passar férias, passar um fim de-semana ou simplesmente descansar, há um hotel rural em Fornillos de Aliste. E em Ceadea, há uma casa de turismo rural. Em Fonfria, há também um albergue de peregrinos para quem esteja a percorrer o Caminho Português de Santiago de Compostela, pela rota da via de La Plata.
As especialidades gastronómicas de Fonfría
A gastronomia do município de Fonfria tem como protagonista a carne, e mais concretamente a vitela de Aliste. Os pratos mais apreciados são o “chulletón a la plancha y las molejas en salsa”, o cozido, o “botillo com berzas” o cordeiro, o cabrito, o frango do campo ou as peças de caça, como o prato de “setas com liebre”. Destacam-se também os queijos e os enchidos, acompanhados do saboroso pão tradicional, do vinho e dos licores caseiros. Para sobremesa, existe uma variada doçaria que oferece roscas, madalenas, “bollos marimones”, torrijas, borrachos… Pela gastronomia, pela história e tradições, pela natureza, pelos problemas comuns como são o isolamento e o envelhecimento, pelas festividades e o comércio, pela cooperação política e sobretudo pelo encontro com as pessoas e o conhecimento da sua cultura, ainda bem que fomos visitar e conhecer o município vizinho de Fonfría!