Reportagem: 10 anos da Unidade Industrial de Transformação da Carne Mirandesa
A carne mirandesa é hoje uma marca de referência nos mercados nacional e internacional, graças à Unidade Industrial de Transformação, localizada em Vimioso, inaugurada no dia 10 de agosto de 2011, há precisamente 10 anos. (por Hugo Anes)
A criação de bovinos
Luís Vaz tem 61 anos e é natural de Avelanoso. Após uma experiência de emigração em França, regressou a Portugal para se dedicar à pecuária. Juntamente com a esposa decidiram instalar-se como jovens agricultores e fizeram um projeto para serem criadores de bovinos de raça mirandesa, uma atividade que, segundo Luís Vaz, “exige muita dedicação”.
Para os criadores de bovinos desta raça autóctone, a Unidade Industrial de Transformação da Carne Mirandesa, localizada em Vimioso, é uma grande mais-valia, pois permite, simultaneamente, vender os animais, transformar a carne e dar maior rentabilidade aos criadores.
Por esta razão, o próximo dia 10 de agosto de 2021, é uma data memorável para o setor agropecuário da região, dado que se celebra o 10º aniversário da inauguração da Unidade Industrial de Transformação da Carne Mirandesa, em Vimioso.
Perguntámos a Luís Vaz, que importância tem esta infraestrutura para os criadores de bovinos de raça Mirandesa? Ao que o criador respondeu sem qualquer hesitação: “Se não fosse a fábrica, os criadores não conseguiriam vender os animais, a carne não teria o destaque que tem hoje nos mercados e mesmo a preservação desta raça de bovinos mirandeses estaria em maior risco”.
O criador de bovinos de Avelanoso, acrescentou que a Unidade Industrial de Transformação da Carne Mirandesa é uma vantagem, pois permite inovar e fabricar outros produtos com a carne mirandesa. Para além da posta mirandesa, da costeleta e do rodilhão – os produtos mais procurados – transforma-se a carne numa gama muito variada de produtos como são as chouriças, as alheiras, etc..
De acordo com Luís Vaz, a existência desta unidade industrial deve-se muito ao anterior presidente da Câmara Municipal de Vimioso, José Rodrigues, que “trabalhou incansavelmente para construir a Unidade Industrial de Transformação de Carne Mirandesa”.
“Se não fosse a fábrica, os criadores não conseguiriam vender os animais, a carne não teria o destaque que tem hoje nos mercados e mesmo a preservação da raça de bovinos mirandeses estaria em maior risco”.
A transformação da carne
Ao referir-se ao 10º aniversário da Unidade Industrial de Transformação da Carne Mirandesa, o engenheiro Nuno Paulo, atual administrador, revelou que a qualidade da carne mirandesa se deve, em primeiro lugar, ao trabalho desenvolvido pelos criadores no trato e alimentação dos animais.
O responsável pela Mirandesa enalteceu também o trabalho realizado pela associação de criadores e pela cooperativa agropecuária, que desempenham um importante papel na valorização da carne. A atribuição da Denominação de Origem Protegida (DOP) foi uma alavanca importante para a comercialização da carne mirandesa.
O engenheiro Nuno Paulo sublinhou que os bovinos mirandeses “são a única raça autóctone do país que tem a sua própria unidade industrial de transformação da carne”.
Segundo o administrador da Mirandesa, esta unidade industrial existe graças ao trabalho de concertado de “todos os criadores e ao empenho de várias entidades, como as autarquias do nordeste transmontano, em particular, a autarquia de Vimioso”, indicou.
Nesta inovadora unidade industrial são implementados vários processos tecnológicos de fabrico, que dão origem a produtos refrigerados, congelados e à charcutaria.
Na charcutaria, por exemplo, fabricam-se produtos como a alheira vitela, a chouriça tradicional especial assar, o paté de fígado com tomilho, as almôndegas, os hambúrgueres, entre outros produtos que tornam a carne mirandesa mais variada e apetecível.
Todos estes produtos são comercializados para os setores da hotelaria, da restauração, da cafetaria e do catering, nos mercados nacional e internacional.
“Os bovinos mirandeses são a única raça autóctone que tem a sua própria unidade industrial de transformação da carne.”
A restauração
O restaurante Miradouro, localizado em Miranda do Douro, é um dos destinos da carne mirandesa.
Bruno Gomes, o proprietário do restaurante, explica a razão da sua preferência por este produto: “A carne mirandesa é suculenta, com uma textura e um sabor únicos, o que a distingue das outras carnes”.
Entre os pratos mais apreciados pelos clientes, Bruno Gomes, indica que a posta à mirandesa, a costeleta de vitela e o rodilhão são os pratos mais procurados.
Sobre a mais-valia da Unidade Industrial de Transformação da Carne Mirandesa, o empresário da restauração, disse que a partir do momento que a fábrica começou a funcionar, a carne começou a ter outra apresentação. “Notou-se uma grande diferença no corte, na maturação e no embalamento da carne mirandesa”.
Também Bruno Gomes, destacou a novidade da gama de produtos finais, como as “hambúrgueres de vitela, o churrasquito mirandês, as chouriças, etc.”, que começaram a ser fabricados graças â Unidade de Transformação da Carne Mirandesa.
“Com a Unidade Industrial notou-se uma grande diferença no corte, na maturação e no embalamento da carne mirandesa.”
Para além da carne, o restaurante Miradouro também procura oferecer aos seus clientes outros produtos locais de excelente qualidade, como são o cordeiro da raça churra galega mirandesa (produto de Denominação de Origem Protegida), os ovos, as batatas e os legumes.
No entanto, na perspetiva do empresário da restauração há um problema que urge resolver: os produtores hortícolas estão desorganizados.
Para resolver este problema, Bruno Gomes, sugere que os produtores hortícolas se organizem numa cooperativa. “Se os produtores hortícolas estiverem organizados numa cooperativa, como acontece na Cooperativa Agropecuária Mirandesa, saberíamos mais facilmente a quem nos dirigir, que quantidades teriam disponíveis e com que regularidade poderiam fornecer os seus produtos à restauração local”, sugeriu.