Opinião: E agora?
D. Nuno Almeida, Bispo de Bragança-Miranda
Agradecemos a Deus e a Maria a maravilhosa experiência da Jornada Mundial da Juventude. Dizemos obrigado a todos os jovens que fizeram parte, de tantos modos, desta aventura: a Jornada foi e é dos jovens! Agradecemos a D. Manuel Clemente, D. Américo, D. Joaquim, aos voluntários e a todos (Autoridades, Entidade Públicas e Privadas, Forças de Segurança …) a todos os que deram vida e deram um pouco da sua vida pela JMJ! Dizemos um enorme obrigado ao Papa Francisco!
Será preciso voltar a todas as palavras do Papa Francisco nesta JMJ, mas antes disso, aqui partilho alguns pontos de interpelação, pois o Papa Francisco pôs em prática, nesta JMJ, muitas propostas do Sínodo dos Jovens e do que nos legou em “Christus vivit”.
Partimos da JMJ com a certeza de que Deus está presente e operante na vida dos jovens, reconhecendo que o Espírito Santo atua na sua vida. Como nos convida a fazer o Papa Francisco: “o coração de cada jovem deve ser considerado «terra sagrada», diante da qual nos devemos «descalçar» para poder aproximar-nos e penetrar no Mistério” (Christus vivit, nn. 66-67).
Por tudo o que vimos, ouvimos, lemos e experimentámos nesta JMJ, destacam-se alguns aspetos particularmente evidentes que nos desafiam a tornarmo-nos seus companheiros de viagem:1.Existe uma forte busca de sentido; 2.Existe um grande desejo de autenticidade; 3.Existe uma busca espiritual profunda; 4.Existe, enfim, uma renovada “ânsia de comunidade” no mundo juvenil.
Destes pontos esquemáticos nascem muitas perguntas: em que modo iremos prestar realmente atenção à busca de sentido dos jovens? Conseguiremos acompanhar os jovens na direção de uma correta personalização da sua fé? Como propor hoje aos jovens o Evangelho da liberdade, convictos de que só na verdade e na caridade esta liberdade pode ser plena? Como anunciar hoje aos jovens o Senhor Jesus como plenitude de vida e de esperança para eles? Através de que experiências poderemos ajudar os jovens a saborear a comunidade, a fraternidade, a familiaridade?
Esta página exprime bem aquilo que gostaríamos que cada uma das nossas dioceses, paróquias, movimentos … pudesse viver na sua relação com os jovens.
O evangelista mostra a necessidade que os dois viandantes tinham de procurar um sentido para os acontecimentos que viveram. Ressalta-se a atitude de Jesus, que Se põe a caminho com eles. O Ressuscitado deseja percorrer o caminho com cada jovem, acolhendo as suas expetativas, mesmo que sejam desiludidas, e as suas esperanças, ainda que sejam inadequadas. Jesus caminha, escuta, partilha! Interroga-os e escuta com paciência a sua versão dos acontecimentos, para os ajudar a reconhecer aquilo que estão a viver. Depois, com afeto e energia, anuncia-lhes a Palavra, levando-os a interpretar à luz das Escrituras os factos que viveram. Aceita o convite para ficar com eles ao anoitecer: entra na noite deles. Enquanto O escutam, os seus corações abrasam-se e as suas mentes iluminam-se; na fração do pão, abrem-se os seus olhos. São eles mesmos que decidem retomar sem demora o caminho na direção oposta, para regressar à comunidade e compartilhar a experiência do encontro com o Ressuscitado” (DF, 4).
Se assim é, então, tudo fazer para que os jovens cruzem o seu olhar com Jesus Cristo! Tudo fazer para que os jovens escutem a Voz e Chamamento de Jesus Cristo! Tudo fazer para juntos seguirmos Jesus!
Jesus acompanhou o grupo dos seus discípulos, partilhando com eles a vida de todos os dias. A experiência comunitária põe em evidência qualidades e limites de cada pessoa, aumentando a consciência humilde de que, sem a partilha dos dons recebidos para o bem de todos, não é possível seguir o Senhor.
Esta experiência continua na prática da Igreja, que prevê os jovens inseridos em grupos, movimentos e associações de vários tipos, onde experimentam o ambiente caloroso e acolhedor e a intensidade de relações que desejam.
Possivelmente os jovens, nesta JMJ, não pediram, antes de tudo, para ser “instruídos”. Também não pediram que “os deixássemos em paz”. Nem que organizássemos algumas coisas para eles. Pediram-nos e pedem-nos, agora, que sejamos uma Igreja que caminha com eles. Pedem-nos que sejamos “companheiros de viagem”, como no caminho de Emaús.
São duas, segundo o Papa Francisco na ChV, as principais linhas de ação da pastoral dos jovens. Uma é caraterizada pela busca, a convocação, o chamamento, a atração dos jovens para a experiência de relação com Jesus Cristo. Para isto é necessário aproximarmo-nos dos jovens com a gramática do amor, não com uma atitude de proselitismo (ChV 211). Trata-se, também, de despertar em cada jovem a sua identidade de discípulo-missionário feliz, fiel e fiável: atrever-se a semear o primeiro anúncio nessa terra fértil que é o coração de outro jovem (ChV 210).
A outra desenvolve-se no crescimento, no desenvolvimento de um caminho de amadurecimento daqueles que se deixaram tocar e convidar (ChV 209).
+Nuno Almeida, Bispo de Bragança-Miranda
Fonte: Ecclesia